sábado, 9 de abril de 2011

Unos ou separados?

Unos ou separados?

As escolas filosóficas de caráter adwaita (sem segundo) na Índia concebem o Universo como fruto do ato da observação e também de uma falha da percepção, já que os sentidos são limitados e não são capazes de perceber, por exemplo, que uma pedra é um aglomerado de energia dinâmica. Para o adwaita tudo é Uno, e o observável só parece existir por haver um observador (Purusha, Brahmam, Shiva).

Fernando pessoa fala sobre percepção e relatividade neste verso:"O Universo não é uma idéia minha. Minha idéia do Universo é que é idéia minha"

As escolas de caráter dwaita (dualista) entendem o homem, o universo e Deus como dissociados. Existe um paraíso onde viveremos e nos relacionaremos com o Ser Supremo.

Na Índia, estas divisões são tão fortes que há um texto da escola dwaita que diz que se alguém apenas ler algo escrito por Shankaracharya, grande expositor do sistema Adwaita, estará fadado ao infortúnio.

Por estas bandas de cá é comum encontrarmos um mesmo artigo conciliando as visões dwaita (Deus é diferente de mim) e adwaita (Eu e tudo o que existe somos Um). Talvez porque graças à nossa formação judaico-cristã que é, de certa forma dualista, dificulte um pouco a digestão de um sistema não-dualista.

Há uma história em que Shri Ramakrishna, um grande mestre da Índia, foi até templo de Kalí, sua deusa amada. Chegando lá, ele colocou-se diante do altar para ofertar uma guirlanda e outros mimos à Kalí, estava aí o sentimento dualista (dwaita). Mas, para a surpresa de todos, ele ofereceu tudo à si mesmo, graças à sua visão não dualista (adwaita)!

A história acima ilustra bem o sentimento de integração gerado pelo sistema adwaita. 

Swami Satyananda diz que Yoga não é a união da alma individual com a alma suprema como ouvimos o tempo todo. Justifica que não pode haver integração de algo que nunca se fragmentou, nunca se separou.

A integração proposta pelo Yoga, portanto, já existe. Você está exatamente onde deve estar, não há evolução, nem involução.

Shivoham, Shivoham!

Prof. Fabio Goulart

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